De volta!




Desde aquela noite no cais que minha "não vida" não era mais a mesma.
Sem informante, com os pensamentos em desordem, logo eu que desde o dia que conheci a escuridão, sempre me mantive firme, fria e mais que calculista.
Um turbilhão de pensamentos me invadia. Sforza, era sem dúvida, umas das melhores aquisições num mercado negro como esse. Muitos negócios eu desfiz para o meu prazer, sim desfiz. Era o que eu fazia, atrapalhava o negocio alheio e usava ao meu favor. Multiplicando meus bens e sobretudo, meu ego.
Não posso negar, não só a mente corrupta dele que me fascinou deixando-me com pena de liquidá-lo, mas o que ele revelou em seu mais íntimo pensamento. Ele me queria!Pobre homem. Não sabe a sorte que ele teve em não tentar nada comigo. Eu não tinha idéia que ele queria isso, nunca me interessei por esse lado da mente dele. Mas, pensando bem, até que seria uma experiência bem agradável. Corrupto, mal caráter, lindo. Nossa, que mistura. Seu cabelo preto, preso em uma imenso rabo de cavalo me lembrava ELE, o senhor das minhas vontades, dono da minha alma morta , pai, amante, amigo! Quase podia sentir o doce de seus lábios e o timbre forte da sua voz ao me dizer coisas tão lindas e milenares. Seu porte atlético, seu corpo delgado e pálido.Há tantos anos tinha me deixado, mas eu ainda conservava em mim tanto dele. Levo a mão ao peito e sinto a gota negra que eu carregava junto ao peito que me dera pouco antes de partir.    - De hoje em diante minha amada, muita coisa mudará. Carregue essa pedra contigo, pois ela vai simbolizar cada lágrima de saudade que derramarei quando estiver longe de ti. Aproveitamos bem aquelas últimas noites, eu sabia, no fundo que chegava a hora da nossa separação. Saiamos, nos divertíamos. Sentávamos à mesa de um bom restaurante e nos deliciávamos com os pensamentos de todos.  -Veja minha menina, aquela ali, altiva e poderosa, deseja não a mim, mas a ti. Gargalhava alto.
Algumas noites, apenas caminhávamos pelos parques escuros procurando o melhor alimento e depois, voltando bem tarde para casa. Numa noite destas, não resisto. Voltamos de nossa jornada e ele se recolheu na biblioteca, onde permanecia por horas a fio.   O desejo me consumia e eu não queria nenhum daqueles que tinha fácil pela rua, era ele quem eu queria. Meu senhor e meu amo. Desço as escadas devagar, uma leve peça de roupa simples e transparente cobria meu corpo. Eu o queria, eu o teria, ainda que fosse pela última vez. Entro no cômodo iluminado apenas pela luz da lua e no mesmo instante ele me olha e diz:  -Esta noite mon amour, és a mais linda entre todas!  E então eu o beijei, de forma ardente e desesperada. Como se ele, fosse o último ser da face terrestre. Acariciei seu corpo, segurei-lhe os cabelos sedosos e longos enquanto aproveitava cada centímetro daquele corpo sem marcas, macio e frio. Suas mãos fortes se dividiam entre as mechas dos  meus cabelos e o contorno do meu corpo que ele desenhava com a ponta dos dedos. Seu indicador desce dos meus lábios ao meu pescoço, acompanhando a corrente que segurava a jóia que tinha me dado há poucos dias. Era um desejo humano, a carne, o prazer. Mas ele correspondia, porque também era o que ele queria. E assim que nossos corpos se encaixam em perfeita harmonia, sinto seus caninos a cravarem a minha pele, selando assim o nosso desejo e nossa cumplicidade com o néctar da vida eterna.
Solto um longo suspiro, como se ainda sentisse tudo aquilo.  Será que ele alguma vez, sentiu a minha  falta? Soube por alguns que ele tinha partido para muito longe, queria visitar a terra de seus ancestrais, procurar os vestígios que o mantinha ainda ligado a sua rainha. A que ele dizia ser a mais perfeitas das mulheres e soberana de toda uma nação e sobretudo da sua vida manchada de sangue. Sempre a invejei. Ela teve o amor de todos os homens que quis. era uma serpente, um encanto em forma de gente.Meu senhor falava dela com carinho incomum aos da sua raça. Por anos foi seu servo, defendeu a vida dela com a sua própria. Fecho os meus olhos e quase posso vê-lo a servi-la. Uma ponta de ciúme me assola a mente e grito quase sem perceber.  Que fique ai nessas pirâmides malditas do seu Egito sujo a lembrar desta que nunca sequer lhe tocou os lábios!
Ah droga, que era isso agora? A saudade me consumia era isso, eu o queria, precisava das sábias palavras e do seu abraço aconchegante. Há muito não me sentia sozinha. Estava sempre cercada de gente. Seguranças, funcionários, todos dedicados sem ao menos me perguntar uma palavra sobre meus hábitos nada normais. Mas meus relacionamentos eram fúteis e exclusivamente para me alimentar. Tomava-lhes o néctar e depois os devolvia a rua, sem memória, sem sangue. Tão longe estava que mal presto atenção a minha volta, exceto quando um aroma bem peculiar toma conta de minhas narinas apuradas, mas desligadas naquele momento. Se coração ainda tivesse, com certeza ele bateria em descompasso.

- Vejo que minha menina esta rememorando, hábitos bem humanos. Que grosseria disse deste que sempre lhe amou e que acima de tudo, lhe deu tudo que tem.

2 comentários:

Thiago Quintella de Mattos disse...

Mas assim é: de vez em quando não se ama mais aquela pessoa que nos considerava único.

Felipe. disse...

Oi, Robs, tudo bem?
Fui invadido pelo seu turbilhão de sentimentos.
Beijo.

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