Um conto do destino - parte 2

Os dias se passaram sem muito esforço, ora eu acordava feliz e contente, ora eu me afundava na poltrona da biblioteca e morria de chorar e assim se seguia.

Em algum momento,  tudo aquilo iria passar.

Aquela era a manhã que eu acordava desmaiada para o mundo e estava no lugar que se tornara meu "reino".

Afundada naquele divã, eu olhava tudo com mais detalhe nos últimos dias. Nem a composição dos móveis mudei e nem sequer, lembrava as vezes que tudo estava como os antigos donos haviam deixado. 

-Era um casal que morava aqui, eram apenas os dois. Viveram juntos até o fim. Vais gostar de tudo, tem um amplo jardim e a vista da biblioteca, dá para as montanhas. Precisava ver que lindo. 

No dia que o corretor me disse aquilo , mal tinha condições de ouvir tudo com atenção, só queria que  acabasse e ele fosse embora para que simplesmente, ficasse sozinha e colocasse a cabeça para descansar. Nunca ao menos havia olhado a janela como deveria.

Chega! Aquilo tinha que acabar.

Levantei e abri a janela com tudo. O sol estava se pondo e felizmente, atrás daquela montanha realmente linda que eu colocava os olhos pela primeira vez de verdade.

Como poderia ficar imune aquilo? Como poderia deixar esse milagre da natureza passar desapercebido e não viver?

O mar era lindo? Sim... mas tinha ficado para trás junto com todo o resto da vida que ela um dia teve agora tudo mudava e as coisas tinham que seguir adiante.

Um barulho me tira do devaneio, era o celular que mal havia pego no tempo que estava ali, aquilo também fazia parte de um desapego. Corri para atender e nem olhei direito quem era. 

- Alô! 

- Pelo amor de Deus onde você anda? - Gritava a voz do outro lado. Então percebi o que quanto me afastou do mundo e que tinha trabalho a fazer. 

- Olha, ando do quarto para sala , da sala para a biblioteca e desta para o quarto... sem contar pequenas paradas no banheiro, cozinha, essas coisas. 

- Acha que estou rindo?

Não, eu não achava e ele estava certo. Esqueci o mundo, meu trabalho, responsabilidades, a civilização. 

Ele desanda a falar tudo que precisava  e diz, você tem 15 dias para terminar a revisão e me entregar tudo, dizia entre gritos e risos de nervoso. 

- Ok, ok Bernard. Vou terminar, eu prometo capitão! 

- Não vou tolerar suas ironias ouviu? Não me deixe mais preocupado  , senão eu vou atras de você com um chicote. 

- Não vou mais... - o telefone é bruscamente desligado. Tá tá... excêntrico, chato,mal amado! Mentira!! hunffff... Você tem razão, mas só admito por que desliguei, vamos trabalhar! 

Pego o notebook, sento novamente na minha bela poltrona, mas antes resolvo fazer só mais uma coisa... 

- Vou mudar tudo!

Tiro armários, livros, tapetes, quadros, porta retratos , vasos, luminárias.  Quando terminei, olhei tudo com ar de desgosto. 

Puxa vida, aquele casal sabia como deixar tudo de uma forma tão graciosa que como era iria mudar tudo de uma vez assim?

Enquanto olhava o móvel pego o porta retrato deles na mão. Era uma foto bem antiga, uma bela moça com um vestido branco, um  laço de fita na cintura, ele com uma camisa engomada, um terno antigo. Como eram lindos! Os longos cabelos dela, contrastavam com os cabelos castanhos dele, espesso.. um bigode bem peculiar naquela época. Embaixo, pequenos dizeres... " Foi nesse dia que te toquei pela primeira vez..." 

Me sento perdida em pensamentos olhando aquela foto, Que amor era aquele? Que amor havia sobrevivido a tudo e a todos? Como alguém poderia viver anos no mesmo lugar, com a mesma pessoa?

Uma crise de choro me invade que adormeci de tanto chorar. 

Mal sabia quanto tempo havia passado ali dormindo, só olhou o relógio, viu que ainda era madrugada, puxou a coberta e voltou a ficar ali , no divã até o dia seguinte.

Continua...

Um conto do destino - Tempo de mudança

Era bem difícil arrumar todas aquelas caixas!

Com o tempo . tinha tanta tralha que mal sabia onde colocaria tudo.

Ainda era muito penoso  pensar em tudo que havia passado nos últimos tempos, sair da frente do mar para a frente de um monte de terras. Altas, frias!

Ora essa, era inverno. Só poderia ser frio mesmo. Talvez no verão, tudo fosse colorido? Quem sabe?  Eu não sabia e nem poderia afirmar. Quando decidiram que nada mais tinham em comum, simplesmente achei o lugar mais longe e parti.

Olhava tão desolada para aquele monte de pilhas feitas sem ter nem noção de onde colocaria tudo. 

-Bom, melhor que tenho a fazer é me acalmar, respirar e ver onde consigo colocar o básico, o resto deixo nas caixas, nem vou precisar de tanta coisa assim. Vamos a cozinha que preciso de algo pra beber e comer. 

No andar de baixo, eu olhava também da mesma forma, a maior preocupação naquele momento era se encaixar. Não só as coisas materiais, mas sentimentais, mentais e todos  "AIS" que se encaixassem ali. 

A chaleira apita, encho a xícara do chá e vou me sentar um pouco na varanda  fria. Era cedo ainda, eu tinha pulado cedo da cama, talvez atormentada pela bagunça. Atormentada pelo fato de não ter conseguido me nortear nessa nova fase. 

Sentada ali, eu observava as poucas pessoas que saiam aquela hora da manhã, fria e úmida. As árvores balançavam com o vento forte e faziam uma música meio assustadora, mas quem passava parecia nem ligar pra isso. Passado alguns minutos, resolvo sair daquele frio e entro. 

- Vamos ao trabalho. Melhor fazer logo e acabar logo com isso. Música maestro. 

Coloco uma música, me visto de coragem e vou à luta. 

continua...