Margueritè - parte 1

A claridade invade o cômodo e ela se contraia toda.
Sentia-me estranha, porque mal se lembrava de como teria ido parar naquele quarto luxuoso de hotel, em verdade, não se lembrava de absolutamente nada do que tinha ocorrido.
Viro-me para o lado e tento clarear um pouco as ideias, um pequeno pedaço de papel com uma caligrafia desconhecida chama minha atenção. E me estico toda para apanha-lo ao mesmo tempo em que olho de soslaio e vejo tudo espalhado pelo quarto.
Em cada espaço havia uma peça de roupa e isso dava a impressão de que, a cada parada, uma peça era retirada, arrancada...sei lá.

“Minha pequena, aqui vais encontrar tudo que precisa”. Desculpe sair assim, mas foi necessário.  Sei como encontrá-la, não se preocupe. “Beijo”.

- Em que enrascada eu cai agora?

Nem mal termina a frase, pula da cama nua em pelo. Ao se olhar percebe que deve realmente ter feito uma coisa bem confusa, pois se estava naquele estado... Caminha até o banheiro que era quase do tamanho da sala da casa dele e resolve aproveitar o que estava na sua frente.

A banheira ia enchendo, fumegante feito uma chaleira de chá e ela ia relaxando e colocando sua cabeça em ordem, coloca um, dois pés e se afunda naquela água quente e revigorante.
Aos poucos, vai refazendo seus passos, ou ao menos, tentando. Seu corpo doía um pouco, algumas manchas apareceram em partes inusitadas do teu corpo. – Marguerité, o que fez?

Fecha os olhos novamente e tenta aproveitar o vapor da água pra purificar seus pensamentos.

- Boa noite senhorita De Biase, bom revê-la.

Eu não frequentava aquela boate há meses, lembranças de um passado que eu gostaria de esquecer. Estranho como as coisas do coração sempre nos fazem bloquear coisas que amamos, ou pensamos que amamos, pelo menos.
Mas dançar era uma coisa que sempre adorei fazer e simplesmente parei por conta daquele imbecil que eu um quis me casar. Coisas que fazemos sem ao menos saber por que fazemos.
Deixa estar...
A meia luz e a musica tocava e o retumbe já se misturava ao bater do meu coração, fecho meus olhos e já vou entrando no compasso, quando sinto mãos frias me tocando levemente os ombros. Seu toque a principio me choca pela temperatura, mas era como se um choque leve me percorresse o corpo assim que o ouço dizer perto do meu ouvido, num sussurro leve.
- Soube que a senhorita era a melhor por aqui, me daria à honra?
Ao virar me deparo com os olhos mais lindos que eu supunha existir. Amendoados, brilhantes e expressivos. Um tom de pelo moreno, que não se poderia dizer de onde era. Cabelos negros, na altura da nuca, moderno sem perder a discrição. A roupa impecável. Camisa negra, aberta até altura do peito, um terno de corte impecável do mesmo tom e apenas um pequeno botão escarlate na lapela tirava a sobriedade do traje.
Sem que eu pudesse expressar qualquer objeção, ele me leva até a pista de dança e seguimos na cadencia do som. Tango... Nada mais poderia tocar naquela hora com tal cavalheiro.

Ele me rodopiava e me levava tal qual uma pluma.

Não posso me lembrar de nada mais, apenas daqueles olhos e de palavras que eu supunha ouvir na mente, sem saber que EU as ouvia de verdade:

- Ah Margueritè,  não se prive só porque não  conhece. Experimente, se permita...Deixe-me levá-la a mundos que jamais imaginou existir.

Suas mãos passeavam pelas minhas costas, espalmadas, suaves e precisas.  A cada toque meu corpo se arrepiava e eu tentava imaginar, como não errava os passos, tamanha era minha desconcentração com aquelas caricias explicitas.
Sentia pequenos espasmos, como pequenas correntes elétricas a percorrer seu corpo. Sabia o que era aquilo e no que poderia se tornar e uma excitação inexplicável toma conta de todo seu ser.... 

continua...