Gangue no cais

Muito havia se passado desde a ultima vez que pisara naquelas terras, as casas quase não existiam mais, davam lugar a arranha-céus que dominavam a paisagem. Nada mais havia de bucólico naquele lugar e eu achava tudo aquilo tedioso. Preferia os tempos onde tudo era menos barulhento, mas enfim, tempos modernos. Do alto da minha suíte olhava o vai e vem dos carros. O burburinho parecia vir do meu banheiro de tão alto aos meus ouvidos sensíveis. A noite era fria, típica de outono. Minha época preferida, as árvores quase sem nenhuma folha... A natureza "morrendo" para em alguns dias renascer. Sentimentalismos a parte, eu mesmo sendo quem era sempre admirei a sabedoria da natureza, apreciava o belo como qualquer um. Ora era melhor deixar de devaneios humanóides e me preparar.

Saio da sacada indo direto a uma mesa enorme com uns papeis e um notebook aberto, examino alguns e planilhas, sem muita atenção. A parte lícita dos meus negócios era burocrática demais e me dava certo trabalho, mas valia a pena. Os números sempre aumentavam, mas o que me dava realmente prazer era o ilícito. O liquido espesso que viajava em meu corpo fervia quando conseguia descobrir uma corja otária e tomar-lhe os negócios e tudo mais. Ótima safra, corruptos, inescrupulosos, bandidos. Não eram as cifras, neste caso que me faziam feliz, era o simples fato de acabar com um negocio inteiro e ainda me fartar. Nunca ninguém desconfiava, chegava com meu riso doce, fala mansa e olhar meigo, quase angélico e então lhes tomava tudo. O negocio e a vida. Vendia tudo que tomara dos bandidos e guardava o dinheiro, agindo somente meses depois. Apenas por prazer.

Termino tudo e tomo um longo banho, vestindo um traje negro, com mangas compridas, mas com as costas de fora, onde apenas uma gota de uma pedra negra caia ate o meio delas, a única jóia que usava. Cabelos bem presos no alto da cabeça, sapatos, carteira e saio. Na porta do prédio , o carro já me esperava.

-Para o cais.

Ao chegarmos, o outro carro já nos esperava, e assim que estaciono um homem já vai saindo de dentro do carro. Alto,de presença marcante, belíssimo por sinal. Sforza era sem duvida, meu melhor informante e o mais charmoso, devia admitir. Nem espero o motorista e já vou descendo. Altiva e arrogante como sempre, ele da dois passos e já se coloca em minha frente. Olhando-me com cobiça da cabeça aos pés.

-"Gie" minha querida. Quanto tempo.

Ao ouvir seu tom e a forma como me chamou minha íris por segundos se colore de vermelho, mas logo domino minhas emoções e volto ao normal. Mas os punhos cerrados denunciavam minha insatisfação. Só um maldito havia me chamado assim e foi o causador da minha perdição. Algo me dizia que a noite não seria boa. Mal presságio. Recuo um passo, dominando meu instinto animal que já estava por um fio.

- Eugenie, por favor, Carlo. Sabe que não gosto de diminutivos, não combinam comigo. Vamos direto ao ponto.

-Claro G..., eh...*pigarreai*...Eugenie. Perdoe-me.

 Seu tom era sarcástico demais e de longe sabia que aquilo de fato não terminaria bem e ele então continua:


 -Houve uma pequena mudança nos planos e eu não vou te entregar mais os nomes que quer e nem tampouco a data do carregamento...

Como eu previa ele queria me passar à perna. Seu jeito cínico me irritava ao extremo, mas espero pacientemente que ele termine de falar. O que ele faz mantendo seu tom jocoso e irritante. 

 continua. 

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