Esforços e Recompensas




Acordo com a luminosidade do dia entrando pela janela. A casa tinha uma visão privilegiada do mar e era ele que nos dava bom dia todas às manhãs.
Deixo meu olhar se perder no ir e vir das ondas e logo em seguida, olho para o lado e ele não estava mais lá. Com certeza, estaria na sala, escrevendo. Há dias estava obcecado e não largava o Lap por nada no mundo. E eu passava os dias vendo tudo de longe, apenas torcendo para que conseguisse chegar onde queria. Calmamente saio da cama e apenas pego uma blusa que estava na poltrona ao lado, indo direto a cozinha.     Com certeza, nem o café havia tomado.
 Enquanto esperava a água ferver, pensava que, eu, assim como ele, também gostava muito de escrever, mas para mim era apenas uma diversão. Uma forma de compartilhar meus pensamentos com outras pessoas. Mas ele... ele tinha paixão. Penso que trocaria tudo para somente escrever. Eu achava isso maravilhoso e me esforçava por manter tudo como ele precisava para fazer o que queria. Pois minha recompensa sempre era prazerosa.  Coloco uma boa quantidade de café na xícara e levo pra ele na sala que nem nota minha presença. Somente quando sente minha mão no seu ombro e meu beijo nos seus cabelos.

    -Bom dia!

 Entrego a xícara com o café quentinho, com a fumacinha saindo e espero ele tomar um gole.

   - Ta ótimo, obrigado.

 Pega minha mão, beija suavemente, enquanto toma mais um gole de café e volta a escrever. Apenas sorrio e vou me sentar ao seu lado no sofá. A manhã era fria e eu fico ali, enrolada numa manta que estava lá jogada, provavelmente, que ele mesmo havia deixado. Enrosco-me toda, deixando apenas meus olhos de fora, queria olhá-lo. E fazia, fascinada! Ouvia claramente em meus pensamentos quando ele dizia que seu sonho era este, apenas escrever:  “Eu quero escrever, gosto de escrever. Se pudesse faria somente isso e nada mais”. E eu calmamente, lhe falava sobre a importância de muitos outros assuntos, mas que uma hora, quando ele menos esperasse, tudo seria como gostaria que fosse.
 Ele lia, relia... Apagava, falava em voz alta. E eu, quietinha, apenas alternava a minha atenção entre ele e o mar. O sol de inverno inundava a sala e já tocava meus pés, que eu tiro de dentro da coberta para aproveitar o calor... Talvez a energia solar pudesse me fazer mandar mais inspiração a ele.
 O que mais me encantava era que, ele quando cismava com uma coisa ia até o fim, claro no âmbito literário, pois os demais, às vezes eram bem difíceis de serem executados.
 Tantas e quantas vezes ele me dizia: “Agora eu vou fazer isso.” E engavetava outro projeto. Eu somente ria do jeito dele e voltava a incentivar suas aptidões de escritor. Ajeito-me melhor na poltrona, cruzando as pernas de forma bem confortável. Ai ai...   Aquilo ia longe! Por algumas horas eu fico ali, ora sentada ao seu lado, sem dizer uma única palavra, ora acariciando seus cabelos e lhe massageando as costas, até perto da hora do almoço. Ele mal levantava para ir ao banheiro. E isso começava a me preocupar. Vou até a cozinha, preparo um lanche bem reforçado e trago a bandeja pra ele.

  - Agora vais fazer uma pequena pausa para se alimentar. Sem desculpas!

 Olho meio com a cara amarrada e o dedo em riste, pois ele já me olhava com cara de criança pidona.

    -Tudo bem, tem razão. Tô morto de fome mesmo.

 Ele tinha um apetite voraz e então caprichei, pois não sabia quando ele terminaria.. Sento-me novamente ao seu lado, apoiando o queixo nas mãos. Ele comia tudo com vontade, pois coloquei tudo que gostava. Quando ele termina, vou retirar a louça, mas antes, beijo suave e repetidas vezes seus lábios e o deixo novamente.
 O dia passa arrastado e eu, ia e vinha assim como as ondas. Do quarto pra cozinha, da cozinha pra sala onde me instalei novamente.
Vez ou outra tirava uma soneca, um soninho leve. Mas sem perdê-lo de vista.
Já era quase noite quando vejo um sorriso gracioso em seus lábios. Teria ele terminado?

   - Ah... Graças a Deus.

 Digo a mim mesma. Meu problema não era passar a tarde ali sem ele nos braços, mas sim a preocupação pelo esforço que ele fazia. Mas chamemos de “determinação”, que cai bem melhor que teimosia. Ele se levanta feliz e vem em minha direção. Finjo que ainda dormia só pra aproveitar a caricia que eu tinha certeza que ele me faria. Quando sinto seu corpo se acomodar ao lado do meu e procurar meus lábios, dizendo:

  -Terminei. Enfim, terminei!

 Foi só o que ele disse e beijou-me.
Algum tempo depois, ambos recebemos a recompensa de tamanho esforço. Seu texto fora contemplado com o primeiro lugar em um concurso literário e eu com uma tarde inteira de amor por serviços prestados ao escritor.  
Moral da minha história?  Todo esforço tem sua recompensa? Também, mas para mim foi... Amor, com amor se paga! 

NOTA: Este texto já foi postado  anteriormente em outro site, mas aqui nunca! Espero que gostem. Pois pra mim ele é muito importante, como tudo que escrevo, mas ele é nostálgico. 

1 comentários:

Felipe. disse...

Oi, Robs, tudo bem?
Devo dizer que com esse texto você simplesmente dá, para todos que a acompanham, o que mais é característico em você: o amor.
Parabéns, viu? Adoro vir aqui e ler o que você escreve.
Tenha uma ótima semana, grande beijo.

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