Eugènie - The devil in disguise

- Um Martini, por favor.

Recosto-me no balcão do bar e fico a olhar todos a minha volta. Risos alegres, bêbados idiotas... Casais exibindo-se e se tocando sem o menor pudor. É, os tempos de fato eram outros e eu adorava tudo isso. O mundo havia virado um pandemônio e eu, no fundo acho que nunca valera muita coisa. Desde pequena gostava do inusitado, lia livros as escondidas, todos proibidos para uma "mocinha" na minha idade. Entreguei-me a o único amor da minha vida embaixo de uma árvore e o perdi praticamente no mesmo lugar. Chacoalho a cabeça tentando entender por que diabos estava lembrando daquele infeliz depois de tantos anos? Tomo o Martine de um gole só ,não sentia nada mesmo, portanto nem fazia diferença, mas ainda assim peço um outro, para horror do barman. Um latino ate que bem apessoado. Minha única resposta para o insolente foi um sorriso sedutor e uma voz ecoando na mente dele bem sacana: 

- Uno mas e cala-te .

Recordações melosas me deixavam de mau humor e a muito, caras e bocas apenas me serviam para ganhar o "alimento" e nada mais. Falava como um anjo, andava como um anjo...sorria de forma tão doce que em segundos abria portas e rasgava gargantas. Mas não naquela noite. Decidira apenas olhar tudo, ver quão falhos ainda eram os seres humanos, mas ao mesmo tempo, como alguns aproveitavam bem a sua existência. Uma música suave começa a tocar e sem perceber fecho os olhos e balanço os ombros no ritmo da melodia. Ainda de olhos cerrados, percebo alguém se aproximando e só ouço sua voz metálica me convidando pra dançar. Ah que maravilha, o aroma que ele exalava era estonteante. Um belo exemplar da espécie, lindíssimo e ainda por cima carregado de más intenções. Guiada pelo seu cheiro, deixo que ele me leve até o centro da pista e ele sem cerimônias, me enlaça a cintura e espalma sua mão máscula nas minhas costas, tocando minha pele fria. Não e que ele dançava muito bem? Conduzia-me com uma leveza e de um modo sedutor, tocava com a ponta do dedo a pantera tatuada logo abaixo de minha cintura, pois assim o decote do meu vestido permitia e ainda escorregava sutilmente a mão mais abaixo. Pervertido, ótima safra. Ao menos para mim. Eu estava alimentada, mas o pulsar de suas veias, a luxúria e o pecado que ele exalava me deixaram com sede de novo. Corpo bonito, sangue quente e corrupto, não necessariamente na mesma ordem, era o que me encantava. Decido entrar o jogo dele e então começo a sussurrar em seu ouvido, a principio, palavras doces, amorosas, ressaltando sua beleza e masculinidade para em seguida, despejar obscenidades e já podia sentir as mudanças no corpo dele, incendiado por mim. Em poucos minutos ele me carrega para um canto escuro e afastado do bar, me beijando e acariciando freneticamente. Entre um beijo e outro o ouço perguntar meu nome, nem me atrevo a abrir a boca pra tal, apenas sorrio maliciosamente calando-o com um beijo ardente e decisivo. Seu corpo contorcia-se em meus braços tentando sair, mas como minha força era maior, o mantenho preso à parede, apenas levantando um pouco a perna. E num súbito senso de bondade, não lhe tomo o sangue todo, cicatrizo a mordida, puxo uma cadeira com os pés e o largo lá. Meus olhos encontram o dele e apenas lhe ordeno que esqueça tudo. Mas já ia saindo e de súbito me lembro da pergunta dele. Giro o corpo e respondo.

 -Eugènie querido. 

Saio no meio da multidão, ainda limpando o sangue que escorria no canto dos meus lábios com a ponta da língua, ajeito o vestido...

-Era pra ser diferente hoje... *faço uma careta de decepção e dou de ombros*  -Quem mandou ser tão saboroso e lindo.

Volto para o mesmo banco, com um sorriso largo e satisfeito nos lábios. Encaro o barman, aquele mesmo que queria regular-me, me retribui o sorriso e ia me entregando outra bebida.

 -Ah que gentil, nem precisei pedir... Aprende rápido meu jovem.

Digo enquanto estico o braço sorrindo em direção a taça.