Sentada em um café, eu pensava
que tudo que eu precisava era aquilo, cidade pequena, pitoresca, sol e apenas o
barulho dos meus pensamentos e dos pássaros cantando.
Não existia lugar melhor que
aquilo. Tudo era tão perfeito que parecia que estava num cenário de filme
antigo.
A exploração de cada ponto, cada jardim
cada loja de quinquilharias fez o meu dia o melhor de todos. Olhava para minha
xícara de café com bolo de fubá e pensava: Que mais preciso eu da vida? Mas
confesso que havia demorado muito para que eu chegasse naquela estagio. Talvez
quando se toma coragem de tomar a decisão mais acertada e mais dolorida na vida te faz mais leve, mais resiliente. Afinal, essa era a ideia do mundo
moderno, RESILIÊNCIA!
Espanto o pensamento para longe e
vejo que nem sabia mais quanto tempo já estava sentada naquele café, só sei que
café não dava mais para tomar e peço o cardápio para ver as bebidas, confesso
que tomaria um dos famosos drinks da noite paulistana, mas aquilo chocaria a
região e merecia que fosse algo tão gostoso e tão singelo e que, sobretudo, não ofendesse
àquela realidade cinematográfica. Acabo por pedir um coquetel da casa
que para minha felicidade, veio tão maravilhosamente apresentado que um foi
pouco!
Uma música bem suave vinha da
praça. Que cenário! Se fechasse os olhos, talvez eu me imaginasse num clima de
filme de época.
Depois de uns 3 coquetéis maravilhosos que nem ousei perguntar o que havia nele, resolvo que era hora de descansar
um pouco, mas algo me impedia, como se eu não quisesse sair dali para não perder nada de
tempo, porém aqueles inofensivos coquetéis com seus guarda-chuvinhas tinham me
deixado bem alegre.O caminho para o hotel era bem tranquilo,
mas talvez o efeito do álcool tenha ativado o meu pensamento que se volta novamente às
semanas anteriores. Ah coração bobo, coração mole... como já dizia a música.
Mas uma vez ele tinha me pregado uma boa peça. Mas eu sabia que era só uma
questão de tempo para tudo voltar ao normal, um período de readaptação de
ideias. Muitas vezes é bem melhor se retirar enquanto se tem certa
dignidade do que esperar para sair no meio do redemoinho. Levasse o tempo que
fosse, as coisas voltariam ao normal.
E a noite e o dia seguinte
passaram num piscar de olhos, mal tive tempo de pensar no vilão da minha mente. E nas minhas idas e vindas, ao cair da tarde, notei um pequeno alvoroço na
praça e fui também ver o que se passava e lá estava a se apresentar um rapaz,
voz ,violão e um chapéu, seu cantar era tão melódico e envolvente que não pude
deixar de parar para ouvi-lo. Que delícia... A voz era melodiosa, algumas vezes
cadenciada...Nossa!
Nem me dei conta que sentei e apoiei a cabeça nos joelhos e
fiquei ali a me deliciar com o som que me enchia o coração de paz e os olhos de
água.
Água essa que lavava a minha alma e regava um sentimento chamado esperança.
A mesma água que regou a flor por meses a fio até perceber que ela só respirava
por aparelhos!
** “... não é por não
querer te ver, nem é por não gostar, mas acho que é melhor cuidar do que
sobrou...”
Ele tinha toda razão! Eu havia feito o certo! Agora era
virar a página, ver o estrago e resgatar os feridos e ver que a vida
continuava.
Nem havia me dado conta que a música tinha acabado e a tarde virado noite e nem tampouco me dado conta que não estava sozinha. Ao voltar
de meus devaneios, viro para lado e alguém me olhava.
- Bem-vinda ao mundo! – Disse ao sorrir e ver que eu
praticamente saía de um transe.
Como ele sabia que eu estava de volta à civilização? Apenas
sorri meio sem jeito e aceito a mão que me estendia para levantar.
- Achei que iria se transformar em patrimônio da
cidade como aquele lá. – Aponta para uma estátua de um senhor que deveria ser seu fundador.
- Não, de forma alguma! – Sorri ainda limpando os olhos.
- Um café?
Não sei dizer quantos cafés tomamos, quanto do acervo do
músico ouvimos, pois, toda tarde voltávamos àquela praça e a cada dia eu ficava
mais convencida de que os acasos, são e serão sempre umas das melhores
surpresas da vida! Aquela foi de fato uma noite, que durou dias!
Notas do autor:
*O título desse conto é em homenagem à uma canção
que adoro muito de um amigo querido, inclusive já fiz até uma lousa com essa
letra, ouvindo a canção quase no fim do conto, acabou coroando o desfecho da minha escrita. Devo dizer que já me inspirei outra vez em uma canção dele
que também me rendeu um conto.
** O trecho da música que transcrevi chama-se "Espera" e
também virou uma das minhas preferidas. #viniciusdiaszurlo
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