Nem sabia quanto tempo se encontrava reclusa, perdera a
conta das noites que estava ali naquela biblioteca vendo o tempo passar. Tempo
que para ela não seria nenhum problema se não estivesse se tornando chato,
monótono, maçante.
Os empregados iam e viam e cada dia que passava se
preocupavam com o estado de sua senhora. Seu fiel guardião passava e as veze
dizia:
- Minha senhora, precisa sair e se alimentar. Não pode
passar a eternidade aqui.
Eu só olhava para ele e nem me dava ao trabalho de dizer uma
palavra sequer, ele já sabia o que queria dizer em sua mente.
- Deixe-me, não há nada lá fora que valha minha saída.
E assim seguiam-se as noites. Mas ele tinha razão. Quanto
tempo mais ela aguentaria sem se alimentar, sem ver a rua. Sem fazer nada? Que
diria seu Senhor se a visse desta forma? E lá voltava ela para suas
recordações. Sentia falta dele, do seu mundo. Da dança que a levou para seus
braços. Nunca mais ela fora a mesma. Nem sabia que pé estavam seus negócios. Seus
empregados mandavam relatos semanais que ela mal olhava.
- Que fez da vida Ma petit? Mon amour não é mais a mesma.
Perdeu o brilho nos olhos.
- Não vê que sinto sua falta? Não vê que não há vida nesse
corpo?
- Mas ela voltou a ser uma criança mimada?
Podia até sentir sua respiração e seu corpo frio no meu.
Estava alucinado já?
- Por que fez isso Raphael? Porque me privou de ter você?
- Você sabe porque ma petit, como vou falar novamente isso?
Vamos... mude esse lindo rosto e volte a ser a minha amada, perversa,
predadora, encantadora. Precisa comer...veja como está?
Ele tinha razão como discutir com ele se estava certo?
- Venha, vou leva-la a escolher uma roupa e hoje vai sair
daqui.
Em alguns segundos estamos a escolher um belo modelo negro,
com as costas abertas até a cintura.
Uma joia negra é retirada da caixa, uma
pequena gota de ônix que ele tanto amava.
Tomo um longo banho, me visto enquanto ele fica a me
observar.
- Horrível vê-lo aí e não poder toca-lo.
- Sabes que não estou aqui amor.
Sei! dizia contrariada.
Termino de me arrumar e desço, mal posso ver a cara de
satisfação de German quando me vê sair do prédio.
Ele abre a porta do carro: - Onde vamos senhora?
- Preciso ver a quantas anda tudo não? Vai que estas me
roubando e eu vou ter que tirar-lhe a vida para suprir os prejuízos?
- Lhe garanto que não, mas, minha senhora, morro feliz só de
ter feito com que saísse.
A reação de todos ao entrar era a mesma, um misto de
admiração e alivio, pois, ela não saía realmente há muitos meses.
Acena a todos levemente enquanto vai caminhando até a mesa
dos fundos, sua desde sempre.
Sabia que ao passar, arrancava olhares e sentia até algumas
respirações ofegantes. Pois é, acho que ela realmente ainda não perdeu de todo
seu encanto e hoje, ela iria alimentar-se a moda antiga.
Uma garrafa e champanhe, olhares a sua volta e ouvido
apurado. Quem ela iria querer?
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