O regresso de Charlotte

Nem sabia quanto tempo se encontrava reclusa, perdera a conta das noites que estava ali naquela biblioteca vendo o tempo passar. Tempo que para ela não seria nenhum problema se não estivesse se tornando chato, monótono, maçante.
Os empregados iam e viam e cada dia que passava se preocupavam com o estado de sua senhora. Seu fiel guardião passava e as veze dizia:

- Minha senhora, precisa sair e se alimentar. Não pode passar a eternidade aqui.
Eu só olhava para ele e nem me dava ao trabalho de dizer uma palavra sequer, ele já sabia o que queria dizer em sua mente.

- Deixe-me, não há nada lá fora que valha minha saída.

E assim seguiam-se as noites. Mas ele tinha razão. Quanto tempo mais ela aguentaria sem se alimentar, sem ver a rua. Sem fazer nada? Que diria seu Senhor se a visse desta forma? E lá voltava ela para suas recordações. Sentia falta dele, do seu mundo. Da dança que a levou para seus braços. Nunca mais ela fora a mesma. Nem sabia que pé estavam seus negócios. Seus empregados mandavam relatos semanais que ela mal olhava.

- Que fez da vida Ma petit? Mon amour não é mais a mesma. Perdeu o brilho nos olhos.

- Não vê que sinto sua falta? Não vê que não há vida nesse corpo?

- Mas ela voltou a ser uma criança mimada?

Podia até sentir sua respiração e seu corpo frio no meu. Estava alucinado já?

- Por que fez isso Raphael? Porque me privou de ter você?

- Você sabe porque ma petit, como vou falar novamente isso? Vamos... mude esse lindo rosto e volte a ser a minha amada, perversa, predadora, encantadora. Precisa comer...veja como está?

Ele tinha razão como discutir com ele se estava certo?

- Venha, vou leva-la a escolher uma roupa e hoje vai sair daqui.

Em alguns segundos estamos a escolher um belo modelo negro, com as costas abertas até a cintura. 

Uma joia negra é retirada da caixa, uma pequena gota de ônix que ele tanto amava.

Tomo um longo banho, me visto enquanto ele fica a me observar.

- Horrível vê-lo aí e não poder toca-lo.

- Sabes que não estou aqui amor.

Sei! dizia contrariada.

Termino de me arrumar e desço, mal posso ver a cara de satisfação de German quando me vê sair do prédio.

Ele abre a porta do carro: - Onde vamos senhora?

- Preciso ver a quantas anda tudo não? Vai que estas me roubando e eu vou ter que tirar-lhe a vida para suprir os prejuízos?

- Lhe garanto que não, mas, minha senhora, morro feliz só de ter feito com que saísse.

A reação de todos ao entrar era a mesma, um misto de admiração e alivio, pois, ela não saía realmente há muitos meses.

Acena a todos levemente enquanto vai caminhando até a mesa dos fundos, sua desde sempre.
Sabia que ao passar, arrancava olhares e sentia até algumas respirações ofegantes. Pois é, acho que ela realmente ainda não perdeu de todo seu encanto e hoje, ela iria alimentar-se a moda antiga.
Uma garrafa e champanhe, olhares a sua volta e ouvido apurado. Quem ela iria querer?








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