Aquela deveria ser uma noite diferente, todas as outras haviam sido tão estressantes e chatas que eu merecia um pouco de diversão, pego a bolsa, apago as luzes e saio.

- Jantar dançante? Caridade? Nossa, soa um pouco clichê demais, porque a única pessoa que no momento era menos caridosa era eu. Mas essa poderia ser uma saída. E esta seria uma saída.

Entro em casa, um silencio estarrecedor me recepciona. Algumas vezes o frio da casa era ainda maior que o normal. Subo tão lentamente as escadas que uma tartaruga me venceria em dois tempo, ou até menos.
Então vamos lá, assim que deve ser não? Desço até a cozinha pego uma taça de vinho e subo novamente, um belo blues e banho!
Um bom banho de banheira deixava qualquer um novo em folha!
Já havia separado um vestido preto, justo com uma bela fenda na coxa direita, já que era pra sair, que seja com um dos melhores trajes.
Prendo meus longos cabelos negros num coque no alto da cabeça deixando as costas abertas  e apenas completo com um cordão de Onix tão negro quanto o tecido que forrava minha pele.
Um toque de perfume e pronto. O que eu via no espelho até que me deixou bem satisfeita.

O lugar era encantador, até a falta de vontade que teimava em rondar minha mente se apaga ao me deparar com as luzes que cercavam a frente toda do casarão enquanto no interior, uma luz suave iluminava o salão.
Sem vontade ainda de procurar uma mesa, sento-me no balcão do bar pra observar o ambiente.
Nem sei quanto tempo passou, quando me deparo com um misterioso cavalheiro sentado bem ao fundo do perto do bar. De repente, tudo ficou mais divertido.
Tinha olhos de um tom intrigante, cor de jabuticaba, uma barba rala e cabelos tão negros e espessos que eu ficava imaginado como ficavam tão bem penteados.
Nem havia percebido que a música ha muito já tinha começado e um ritmo suave começa, sutil , leve...

 - Hoje será uma noite diferente. - sem ao menos pestanejar me levanto calmamente e caminho até a mesa onde ele estava. Paro diante dele pensando se realmente eu faria isso e o que eu diria:

- Ei rapaz, hoje é teu dia de sorte... mas não, isso soaria tão frio e fora dos meus propósitos que eu resolvo só perguntar:

- Gostaria de dançar?

Incomum eu diria, mas em segundos ele se levanta sem ao menos dizer uma palavra, pega a flor do vaso a seu lado, estende a mim e me toma a mão. Vamos caminhando até o centro da pista apenas nos olhando.
Sua mão então se posiciona em minhas costas enquanto a outra segurava firme minha mão.
Ele não dançava, flutuava.
Conduzia-me pela pista como se ninguém mais existisse ali. Eu a principio, apenas observava seu jeito, sua pele, estranhamente, não falávamos, apenas nos olhávamos com tanta cumplicidade e entendimento que fico pensando se eu nunca o vira antes mesmo?
Uma, duas, três músicas e ainda estávamos lá. De repente, uma música latina, excitante e cadenciada. E era assim também que agora ele me conduzia. Seu corpo mais próximo do meu, firme , quente. Sua mão deslizando pelas minhas costas noutras acariciando meu pescoço.
Nem uma palavra dita, nada. Seu rosto, algumas vezes roçava o meu, podia sentir sua respiração e rezava para que seus lábios fossem mais ousados e encostassem nos meus.
Como que saído de um transe, ele me olha nos olhos, se afasta e me toma a mão. Beija-a de leve.
Confesso que fiquei sem reação e mal sinto o toque. Vai largando minha mão e se afastando como se um fio invisível ainda nos prendesse...Então ele me puxa pra mais perto, prende meus lábios ao dele num beijo leve e me solta, virando-se bruscamente e saindo sem  dizer uma palavra se quer.
Um tanto confusa, mas com um sorriso bobo nos lábios, volto ao balcão do bar e peço uma bebida.
Quando o barman me entrega o copo, eu ainda perdida em pensamentos apenas lhe pergunto:

- Conhece aquele homem que estava dançando comigo?

Ele me olha espantando como se não entendesse minha pergunta. Eu insisto e pergunto novamente:

-Conhece?

Ele então se vira pra mim, um tanto sem graça e me diz da melhor forma que ele podia:

- Perdoe-me senhora, mas desde que chegou há uma hora atrás a senhor não saiu deste balcão.

Encabulada, me levanto e saio sem ao menos olhar para trás e agradecer. Estava tonta e intrigada, tudo tinha sido tão verdadeiro. Já ia entrar no carro quando um garoto vem correndo me entregar uma rosa vermelha dizendo:

 - Um senhor pediu para entregar-lhe. Disse que não precisa saber mais nada além de que não sonhaste.

Então entro no carro, sorriso nos lábios e uma flor na mão, com a unica certeza de que, realmente a noite havia sido muito diferente.


Pequenas Histórias...

Quebec, Setembro de 2008

Querido diário ou nem tanto!

Muitas vezes acho que , se lhe maltrato podes me dar algumas respostas. Isso seria possível?
Na verdade,  só me diz o quão vazia anda minha cabeça pra pensar em tal hipótese.
Tudo parece um ontem mal resolvido e é, não parece. Pedaços de quebra cabeça sem sentido.
Já havia juntado todas as peças e nada fazia sentido.
Olho pro canto da sala como se do buraco do assoalho fossem brotar coisas que me fizessem pensar diferente.

- Nada faz sentido, mas será que deveria?

Desisto do café frio da caneca e acabo jogando no chão mesmo, tornando a encher com algo mais quente, Whisky , do bom. Pagamento de um marido traído que até hoje pensa que viu coisas, se ele visse o que eu realmente vi, ele não me daria nem bom dia. Crimes passionais nunca foram meu forte, era sempre uma extrema necessidade.
Mas ELA me pagou melhor, ok...foi realmente EXTREMA urgência. Passado.
Me sento novamente na frente dos fatos. E reviver tudo aquilo me fazia pensar de outra forma: Como eu deveria encarar esses  fatos? De qual ângulo eu deveria "tentar" encaixar algum sentido naquilo que não fazia sentido algum? Fecho os meus olhos e tento, tento. Será possível que ta tudo tão vazio?

- Vamos lá, vamos  lá! - acho que estava me lamentando pros fatos pra ver se algo em minha mente se encaixaria.  - Talvez mais um trago.  - Droga, garrafa vazia.

As coisas são meio óbvias as vezes quando se olha a primeira vista. Nesse caso, o óbvio passou longe.
Uma bela moça, muito dinheiro, um rapaz sem muitos atrativos, mas inteligente, uma pequena caderneta com  algumas anotações e algumas paginas arrancadas.
Teria ele preterido tão bela moça e esta por sua vez, ter ficado tao louca que mandou dar fim aquele que a rejeitou? Não...não pode ser. - Pensa criatura, pensa!
Um caderno de anotações, pequenas notas de poesia...riscos, paginas amarrotadas e rasgadas...arrancadas como se alguém tivesse lido tudo com muita raiva.

 - Ele desapareceu. - disse-me ela. Não sei porque isso me soava  de forma tão dissimulada. Enfim...

Contou-me como se conheceram e que ele tinha uma vida meio confusa com outra pessoa, mas que não se davam bem, apenas tinha responsabilidades para com a outra.
 Eu, particularmente enquanto ela falava, pensava comigo em toda a minha vasta experiência que, isso não tinha muita coisa haver, mas cada pessoa pensa de uma forma.

- Conte-me mais. - Eu insistia , afinal eu precisava de mais informações, se é que elas realmente existiam, mas ela parecia bem relutante, como se não admitisse.

 E então, ela contou...contou tudo. Como se conheceram, as promessas que fizeram um ao outro, as vontades, as dúvidas. A todo momento, ele me parecia instável demais e ela, segura demais. Essa parte de existir outra e ele não conseguir deixá-la me parecia muito estranho. Entramos na parte do caderno. Nele constavam todos as juras e as brincadeiras Dobradas, rasgadas , algumas letras manchadas e molhadas.
Mas tinha certeza que era como eu supunha, covardia crônica.



Revira-volta!

Muitas vezes tomamos um choque com determinadas coisas que nos acontecem, mas esquecemos de ver que, essas mesmas coisas acontecem por um motivo aparente.
O "nada é por acaso" nos últimos tempos soa tão normal que nem questiono mais.
Errou, não foi por acaso, foi por um ato impensado.
Magoou alguém? A mesma coisa, foste magoado? Ah, por favor, aprende a conviver com as adversidades.
Tenho vivido dias de muito caos exterior e interior.
Minha cabeça é um turbilhão de perguntas e respostas, algumas eu sei até são simples, mas finjo em mudar o rumo e dizer, nunca ouvi falar disso.
Preciso mudar muitas coisas, virar a página, aprender novamente que um simples cantar de pássaro que no passado já me fez extremamente feliz, pode fazer de novo.
Que aquela música que eu tanto fujo é o sinônimo de um tempo bom onde eu fui eu mesma sem ressalvas, sem medos e sobretudo com muita coragem, coisa que falta pra muitos por aí.
Outro dia disse a um amigo querido que iria sumir, dar um tempo, respirar e deixar que os outros respirassem, mas no mesmo instante eu já disse a ele, por favor...não me deixe!
Engraçado porque ele já me disse algo semelhante, e olha que era eu de novo que ia me deixar ficar afastada de tudo.
Sinto falta dos meus amigos que estão longe, tenho raiva de outros que estão perto.
Aprender que as recordações devem ficar nas fotos ou apenas dentro da nossa mente e coração, que reviver um passado morto, pode ter consequências mais funestas do que as que o fez terminal.
Quero novos sonhos, novos rumos, novos amigos, só por hora não preciso de outros amores ( pelo menos não aqueles insuportavelmente doloridos) , amores de brinquedo...divertidos e diversificados.

Quero a reviravolta da vida! Colorida , linda e carismática.